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Esquerda Brasileira

  • Kira Yagami
  • 23 de mar. de 2015
  • 8 min de leitura

Se eu ganhasse dois reais a cada vez que escuto que a esquerda brasileira é muito forte e a direita brasileira não tem força, com certeza eu conseguiria comprar muitas pizzas fritas na cantina da UGB e outros muitos salgadinhos no Amore & Maria.

A esquerda americana, ou tida como esquerda, os Democratas, ou DemocRats como dito pelo Republicanos, seria visto como um partido de completa direita neoliberal burguesa, nota-se então, que direitas e esquerdas são mais ou menos extremas dependendo do país atuante. Nenhum democrata pede que sejam nacionalizadas todas as empresas multinacionais atuantes nos Estados Unidos, os dois partidos são de visão econômica neoliberal, assim sendo a esquerda americana seria categorizada como direita brasileira, e a esquerda brasileira não teria condições nem de sonhar em existir nos Estados Unidos, assim como a direita brasileira seria facilmente tachada de comunista pelos americanos, relembrando o famoso “Better dead than red”.

A Esquerda em sua forma primária

A esquerda brasileira nasceu propriamente dita com Prestes e a primeira tentativa de golpe em 1927, com a Coluna Prestes, dos 1500 jagunços, metade morreu de cólera, outros poucos em combate e se tornou impossível continuar. Onde a Coluna passava, haviam estupros, saques e matança, Prestes nunca revelou isso em vida, sendo descoberto pelo CPDOC em 1998, oito anos depois de sua morte.

Com a revolução de 1930 e Getúlio chegando ao poder com apoio do tenentismo, exceto Prestes que havia adotado o comunismo nesse mesmo ano e largado o movimento tenentista, a revolução também extinguiu os poderes dos governadores dos estados, depois da Revolta constitucionalista dos Paulistas contra Vargas, instaura-se a constituição de 1934, completamente baseada na de Weimar na Alemanha, Getúlio criticava duas coisas na constituição, o déficit público que haveria se todos os bancos fossem nacionalizados e todos os direitos civis garantidos e a segunda critica era o liberalismo social, que se fosse como proposto impediria o combate a subversão, ou seja, Getúlio sendo Getúlio.

Voltando à esquerda e ao cavaleiro da esperança como era chamado, Prestes havia tido contato com a Internacional Comunista, nesta época já Komintern (Internacional comunista é mais bonito que Komintern, por favor), e então sua história se junta a Olga Benário, alemã, judia e comunista, por força do Partido Comunista Soviético, o PCB os aceitou e ambos entraram no Brasil em 1934 como clandestinos, prontos para fazer o que Moscou pedira, liderar uma revolta armada brasileira e a implantação do comunismo no Brasil.

A ANL, Aliança Nacional Libertadora, já mostrava seu descontentamento com Getúlio, e Prestes mesmo clandestino foi eleito presidente de honra da Aliança, um ano depois o manifesto de “Todo o Poder a ANL e a deposição de Vargas” foi feito e Getúlio declarou ANL como uma organização ilegal, assim desmontando-a, no mesmo ano guarnições no Nordeste e no Rio de Janeiro se rebelaram e foram completamente massacradas pelas tropas de Getúlio.

A esquerda deu a Getúlio o que era preciso para continuar o governo, o Plano Cohen, visto que a Intetona Comunista não funcionou era fácil convencer a população de que haveria uma segunda e assim a constituição de 1937, o Estado Novo e o estado de sítio, Vargas deu um golpe e armou a ditadura, as únicas revoltas foram do Governador do Rio Grande do Sul e logo foi desarmada, e ao fechar a AIB, Ação Integralista Brasileira, membros armados invadiram o palácio da Guanabara, esse chamado Levante Integralista fez Getúlio criar sua guarda pessoal, Getúlio, Hitler e Mussolini pareciam curiosamente a mesma pessoa.

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Nota-se o autoritarismo e o nacionalismo nas ações presidenciais, Getúlio não era de esquerda e nem de Direita, Getúlio era de centro.

Sendo assim, os dois partidos de maior força ficaram ilegais, tanto o ANL quanto o AIB.

Quando o tenentismo deu fim ao Estado Novo, a esquerda pôde voltar a vigorar no país e não participou de muitas questões, o PCB acabou voltando para a ilegalidade.

As coisas começaram a rodar em 1959 com a Revolução Cubana. A maioria dos governos, se não todos, entre 1946 e 1964 foram populistas, seguindo a linha de Getúlio. JK e Jânio foram os que mais se mostraram amistosos a esquerda, provocando descontentamento nos militares durante esses dois governos.

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Jânio Quadros assumiu em 1958 a presidência do Brasil, um gênio de relações diplomáticas, pode-se dizer que Jânio foi o Nixon brasileiro, os Estados Unidos já tinham preocupações em não deixar o Brasil cair nas mãos do comunismo, com a política de Jânio tendo contato com os dois blocos de países, os americanos foram ficando cada vez menos amistosos ao Brasil, apesar da crítica americana à ação de Jânio, Nixon fez o mesmo 12 anos depois, nota-se que o medo do comunismo americano era tão grande que vez ou outra os cegava.

Com a renúncia até hoje misteriosa de Jânio em 1961, João Goulart assumiu a presidência e os movimentos sociais antes completamente ignorados por Jânio passaram a ter voz, e as passeatas começaram a encher as ruas, a esquerda crescia mais e mais, e historicamente, o que freia a esquerda é a direita.

A esquerda adere à guerrilha

Em 1964 os militares brasileiros assumiram o poder.

(Não vou falar de como era o governo em si nesse post porque ele já está gigante e ficaria cansativo demais).

O golpe militar veio com a ajuda da CIA e do exército americano, foi pedido pela população, como a marcha da família com Deus pela liberdade, a princípio os militares anunciaram sendo uma intervenção militar, a intervenção durou 21 anos, qualquer semelhança com a atualidade NÃO é mera coincidência.

A esquerda atuou contra os militares da forma que conseguiu, tudo era pretexto para ser contra o governo, assalto a banco, assassinato de policiais, Marighella já era o inimigo público número um.

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Em 1969 o embaixador americano no Brasil é sequestrado pelo MR-8(Movimento Revolucionário 8 De Outubro), inclusive Fernando Gabeira participa do sequestro, em 1969 já vigorava no regime os anos de chumbo, e esse ato de sequestro foi além de uma subversão para com o regime brasileiro, e da reivindicação da soltura dos prisioneiros pelo americanos, mas também, uma resposta aos americanos, não demorou muito pra que tomassem as armas no interior do país, seguindo a ideia da Intentona Comunista de Prestes e assim nascia a Guerrilha do Araguaia.

A Guerrilha do Araguaia vinha da ideia maoísta e cubana de iniciar uma revolução comunista pelo Campo e não mais pela cidade, desde 1964 militantes dos partidos comunistas vinham recebendo treinamento militar e político na China e na América Central, a guerrilha se estendia pelo Rio Araguaia na região Amazônica, pelo território de onde hoje é o Tocantins. A Guerrilha tinha pouca gente, pouca arma e pouca experiência, mas uma coisa os colocava na frente do exército, a noção de como sobreviver na mata, haviam três núcleos da guerrilha dentro da mata, em 1972 quando a guerrilha foi descoberta e custou ao exército tirá-los de lá, desde bombardear lugares onde os guerrilheiros jamais haviam pisado e não saber andar na mata, largando rastros e dando sinais de aproximação. (O ex-presidente do PT, José Genoíno fez parte da Guerrilha e foi um dos presos).

O Exército brasileiro fez questão de impor a ditadura militar por onde passou mesmo sem saber, são questões absurdamente ridículas como prender um lutador de circo pelo tamanho dos cabelos, isso não é uma metáfora, isso realmente aconteceu, qualquer sujeito que houvesse comercializado com os guerrilheiros era preso, de certa maneira, não era boa ideia estar do lado dos botões dourados.

Fadada ao fracasso a operação papagaio acabou no mesmo ano de 1972 e a guerrilha continuou lá onde sempre esteve, moradores de São Geraldo do Araguaia já reportaram ao CPDOC que os recrutas passavam na boleia do caminhão todos com cara de choro, a guerrilha havia vencido uma batalha, mas Médici não ia querer perder a guerra e assim começou a Operação Sucuri.

A operação Sucuri foi a corrigida que Médici deu nos planos de 1972, aos poucos militares foram chegando sem vestimenta, sem corte de cabelo adequado, militares foram chegando sem ser militares, a operação sucuri foi a inteligência necessária na missão, um caderno com mais de 400 nomes foi feito, todos ligados a guerrilha de algum modo e então o exército pôs em prática a última fase, a Operação Marajoara.

Foi um completo arraso, não tinha condição da guerrilha lutar contra os militares, todos sabiam se portar dentro da selva, os mateiros e caboclos que ajudavam a guerrilha passaram pro lado do exército, uns por dinheiro, outros por tortura, outros por liberdade. O exército foi ao Araguaia com o intuito de voltar pra casa sem um único corpo de guerrilheiro, os que se rendiam eram assassinados, os capturados eram assassinados, e isso provocou a Operação Limpeza, ditada por Geisel, o exército voltou ao Araguaia e limpou a mata, corpos de guerrilheiros foram queimados e hoje o número de desaparecidos políticos não é pequeno.

Isso é uma das atividades mais importantes feitas pela esquerda no Brasil e ao mesmo tempo, uma das mais extremas, até 1979 a esquerda esteve na ilegalidade.

Em 1979 começa a abertura política brasileira e aqui começa a nossa história política a ser construída.

A esquerda entende como sobreviver

A política depois de 1985 passa a ser outra e temos a mesma divisão entre esquerda e direita.

Na década de 80 todos os movimentos trabalhistas e organizados em sindicatos ficavam no enorme guarda-chuva que o PT os provia, o PT nasceu no fundo das fábricas do ABC paulista e até a década de 90 continuava assim, até que Lula percebeu que não chegaria a presidência dessa maneira.

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Em 1990 a Causa Operária, movimento operário interno do PT foi expulsa do partido, fundando o Partido da Causa Operária, PCO.

Muitos outros movimentos internos foram sendo limados, largados pelo partido, esses movimentos vão ficar órfãos do grande guarda-chuva de esquerda que o PT era, esses movimentos vão se juntar em menores partidos, esses movimentos vão dar origem ao PSOL e ao PSTU, o PT vai deixar de ser a esquerda que foi quando nasceu e vai começar a se aproximar de um centro político no meio da década de 90, mesmo assim, o PT continua com seu discurso contra o que a direita propõe, o PT foi contra o Plano Real, por exemplo.

Até que chega ao poder em 2003, Lula derrota Alckmin nas urnas e finalmente o PT chega ao poder, mas a esquerda proposta nunca esteve no poder, o PT deu continuidade às políticas econômicas de FHC, e o esquerdismo petista apareceu nos programas sociais e veio saldando a dívida social da Ditadura Militar, onde nenhum único programa social apareceu.

A esquerda de hoje vem ganhando um novo guarda-chuva para ficar embaixo, assim como o PT nasceu no vácuo de uma vontade de igualdade sem violência armada e essa ideia atraia pessoas, o PSOL traz a ideia do hype, a ideia do socialismo com liberdade, mesmo que tais palavras no âmbito político não se conversam. A guerrilha do Araguaia além de mostrar que aquela esquerda já estava completamente ultrapassada e fora de seu tempo, provou que esse embate violento não funcionaria, no final, a Carta do Socialismo de Moscou jamais funcionaria no Brasil.

E assim o socialismo se reinventou com a vontade de saldar a dívida social, hoje em dia, o socialismo sofreu uma outra reinvenção, ainda com a ideia da dívida social, o PSOL prega liberdades, liberdades essas que só existem no nome do partido, tal qual os “trabalhadores” também só existe no nome do PT, não funcionaria a liberdade num país que deixou de pagar a dívida externa, por exemplo, a liberdade que o PSOL mostra é o braço libertário do partido, movimento LGBT, movimento negro e as minorias internas, assim como PT o PSOL não se faz presente no âmbito político nacional, pelo fato de ainda ser de esquerda “demais”.

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PT e PSOL são intimamente a mesma coisa, o que muda são os locais onde se encontram.

O futuro do PT como partido hoje, em relação a fama de corrupção e todas as outras situações postas na conta do partido tem dois caminhos a se seguir, um deles é dar fim nesse pedaço esquerdista ainda restante dentro do partido e passar ao PSOL o bastão de comandar a esquerda brasileira e o outro é simplesmente englobar o PSOL e voltar a ouvir a esquerda que ouviu antes, assim se tornando mais uma vez o grande protetor de todas elas.

Assim como a Europa, os partidos brasileiros de esquerda vão dar passos ao centro, nunca largando programas sociais, mas se rendendo ao neoliberalismo, a esquerda vai se centralizar e a direita se libertarianizar.

 
 
 

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